Enquanto alguns moradores do loteamento têm mostrado grande preocupação quanto aos jovens que fazem uso de substâncias ilícitas no entorno da praça Adauto Moreira, o Sabido resolveu conversar com um especialista da área da saúde sobre os riscos que o uso de drogas e entorpecentes pode acarretar nas pessoas.
O psiquiatra Rafael Brandes Lourenço, formado pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE/HSPE) que atende pacientes pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na Fundação ABC e na rede particular, concedeu uma entrevista ao jornal sobre o assunto. Confira abaixo:
Dr. Rafael, gostaria que o senhor comentasse sobre os riscos do uso de drogas, das leves às mais pesadas.
De forma geral, os riscos do consumo de drogas são muitos e têm a ver com a quantidade e a frequência de uso. O indivíduo que usa muita quantidade em um período curto (intoxicação aguda), pode ter alterações de comportamento e emoções instáveis, agressividade, descontrole e mal estar.
Dependendo da substância pode causar o contrário: sonolência, moleza, e o indivíduo pode ficar lento. A pessoa passa a ter dificuldades na capacidade de perceber a si mesmo e ao outro e de ter o julgamento que normalmente teria naquelas situações. É o efeito da droga.
A depender da substância e se a quantidade usada for muito grande, pode haver mal estar muito intenso, alterações na pressão arterial e nos batimentos cardíacos, o que se torna um quadro preocupante, que inclusive pode levar a morte, e costuma levar o usuário a um Pronto Socorro.
Risco muito grande também ocorre quando se configuram quadros de dependência, ou seja, quando o usuário perdeu o controle do uso. Nesse caso o uso é muito frequente e em geral são necessárias doses cada vez maiores da mesma substância para que se obtenha o mesmo efeito.
O corpo acaba não tendo descanso dos efeitos e fica cronicamente intoxicado. Quando tenta parar ou diminuir o uso, tem um quadro chamado de síndrome de abstinência, que pode variar de um leve mal estar, ou, em caso de uso muito pesado e prolongado e parada repentina de, por exemplo, cocaína ou álcool, pode levar a quadros mais graves com desorientação e agitação.
Neste último caso, também necessita ser levado a um serviço de emergência. Grande parte dos casos ocorre quando há um uso em quantidade importante, mas ainda não tão frequente. Porém estes quadros são igualmente relevantes; o interesse pela droga parece chegar a tal ponto que as atividades habituais são progressivamente abandonadas, em geral primeiro as obrigações como a escola ou o trabalho.
O indivíduo pode colocar-se em situações de risco, como dirigir embriagado ou frequentar locais perigosos. Pode passar a haver instabilidade e conflitos no relacionamento com outras pessoas, e, por fim, quadros longos de irritabilidade, ansiedade, ou mesmo depressão, relacionados às alterações cerebrais promovidas por essa alternância entre o abuso e a ausência da droga.
Embora o corpo do indivíduo não esteja completamente tomado pela droga, como na dependência, nota-se que todo seu entorno está. Estes são os riscos mais gerais, mas podemos frisar que alguns estudos indicam que o uso de substâncias está muito envolvido no agravamento ou desenvolvimento de quadros psiquiátricos, como Transtorno Afetivo Bipolar, Esquizofrenia, Depressão e Ansiedade.
No Código Internacional de Doenças (CID-10), existe um subgrupo de transtornos mentais classificados como “induzidos pelo uso de substâncias”. Outros estudos indicam que o uso da maconha em longo prazo diminui a capacidade do individuo em concentrar-se, reter informações, e executar tarefas.
A cocaína, além dos prejuízos já relatados, desgasta o corpo do indivíduo em geral até sua morte, geralmente por intoxicação aguda ou problemas cardiovasculares. Quanto ao crack, uma substância barata e de alto potencial de dependência, tem consequências devastadoras, fazendo com que usuários abandonem ocupações, moradia, alimentação e higiene básica, esta droga convertendo-se na única razão da existência de milhares de pessoas.
O que faz um jovem querer buscar conforto no uso de drogas?
Discutem-se muitos fatores etiológicos (causas) do uso de drogas. Estuda-se isso há muito tempo e os resultados são incertos. Sabe-se que o uso de substâncias acomete todos os países do mundo e todas as classes sociais.
Também são conhecidos casos de pessoas com histórias de vida extremamente semelhantes (educação, personalidade, experiências pessoais), em que uma se tornou usuária e outra não. A questão do alto índice de exposição talvez deva ser a única a ser mencionada.
A pressão que uma certa "tribo" na qual o jovem está inserido pode sofrer para encaixar-se com seus colegas, caso estes também sejam usuários de entorpecentes.
Embora isso possa ser considerado, não acredito que seja a questão principal. Complementando o que foi dito na resposta anterior, hoje existe uma grande exposição a essas substâncias, e nesse caso, talvez a oferta delas mereça maior consideração.
Sinais que os pais devem ficar atentos caso desconfiem que seu filho seja um usuário de drogas.
Alterações de comportamento, ou seja, se a pessoa mudou o comportamento recentemente, deve-se ficar atento. Ansiedade aumentada, irritabilidade frequente, perda de interesse nas atividades do dia a dia e obrigações. Todos esses fatores são dignos de um olhar diferenciado por parte dos pais.
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