sábado, 31 de março de 2012

Você sabe quais os riscos do uso de drogas?


Enquanto alguns moradores do loteamento têm mostrado grande preocupação quanto aos jovens que fazem uso de substâncias ilícitas no entorno da praça Adauto Moreira, o Sabido  resolveu conversar com um especialista da área da saúde sobre os riscos que o uso de drogas e entorpecentes pode acarretar nas pessoas.

O psiquiatra Rafael Brandes Lourenço, formado pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público do Estado de São Paulo (IAMSPE/HSPE) que atende pacientes pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na Fundação ABC e na rede particular, concedeu uma entrevista ao jornal sobre o assunto. Confira abaixo:

Dr. Rafael, gostaria que o senhor comentasse  sobre os riscos do uso de drogas, das leves às mais pesadas. 

De forma geral, os riscos do consumo de drogas são muitos e têm a ver com a quantidade e a frequência de uso. O indivíduo que usa muita quantidade em um período curto (intoxicação aguda), pode ter alterações de comportamento e emoções instáveis, agressividade, descontrole e mal estar.

Dependendo da substância pode causar o contrário: sonolência, moleza, e o indivíduo pode ficar lento. A pessoa passa a ter dificuldades na capacidade de perceber a si mesmo e ao outro e de ter o julgamento que normalmente teria naquelas situações. É o efeito da droga.


A depender da substância e se a quantidade usada for muito grande, pode haver mal estar muito intenso, alterações na pressão arterial e nos batimentos cardíacos, o que se torna um quadro preocupante, que inclusive pode levar a morte, e costuma levar o usuário a um Pronto Socorro.

Risco muito grande também ocorre quando se configuram quadros de dependência, ou seja, quando o usuário perdeu o controle do uso. Nesse caso o uso é muito frequente e em geral são necessárias doses cada vez maiores da mesma substância para que se obtenha o mesmo efeito.


O corpo acaba não tendo descanso dos efeitos e fica cronicamente intoxicado. Quando tenta parar ou diminuir o uso, tem um quadro chamado de síndrome de abstinência, que pode variar de um leve mal estar, ou, em caso de uso muito pesado e prolongado e parada repentina de, por exemplo, cocaína ou álcool, pode levar a quadros mais graves com desorientação e agitação.

Neste último caso, também necessita ser levado a um serviço de emergência. Grande parte dos casos ocorre quando há um uso em quantidade importante, mas ainda não tão frequente. Porém estes quadros são igualmente relevantes; o interesse pela droga parece chegar a tal ponto que as atividades habituais são progressivamente abandonadas, em geral primeiro as obrigações como a escola ou o trabalho.

O indivíduo pode colocar-se em situações de risco, como dirigir embriagado ou frequentar locais perigosos. Pode passar a haver instabilidade e conflitos no relacionamento com outras pessoas, e, por fim, quadros longos de irritabilidade, ansiedade, ou mesmo depressão, relacionados às alterações cerebrais promovidas por essa alternância entre o abuso e a ausência da droga.

Embora o corpo do indivíduo não esteja completamente tomado pela droga, como na dependência, nota-se que todo seu entorno está. Estes são os riscos mais gerais, mas podemos frisar que alguns estudos indicam que o uso de substâncias está muito envolvido no agravamento ou desenvolvimento de quadros psiquiátricos, como Transtorno Afetivo Bipolar, Esquizofrenia, Depressão e Ansiedade.

No Código Internacional de Doenças (CID-10), existe um subgrupo de transtornos mentais classificados como “induzidos pelo uso de substâncias”. Outros estudos indicam que o uso da maconha em longo prazo diminui a capacidade do individuo em concentrar-se, reter informações, e executar tarefas.

A cocaína, além dos prejuízos já relatados, desgasta o corpo do indivíduo em geral até sua morte, geralmente por intoxicação aguda ou problemas cardiovasculares. Quanto ao crack, uma substância barata e de alto potencial de dependência, tem consequências devastadoras, fazendo com que usuários abandonem ocupações, moradia, alimentação e higiene básica, esta droga convertendo-se na única razão da existência de milhares de pessoas.

O que faz um jovem querer buscar conforto no uso de drogas? 


Discutem-se muitos fatores etiológicos (causas) do uso de drogas. Estuda-se isso há muito tempo e os resultados são incertos. Sabe-se que o uso de substâncias acomete todos os países do mundo e todas as classes sociais.

Também são conhecidos casos de pessoas com histórias de vida extremamente semelhantes (educação, personalidade, experiências pessoais), em que uma se tornou usuária e outra não. A questão do alto índice de exposição talvez deva ser a única a ser mencionada.


A pressão que uma certa "tribo" na qual o jovem está inserido pode sofrer para encaixar-se com seus colegas, caso estes também sejam usuários de entorpecentes.

Embora isso possa ser considerado, não acredito que seja a questão principal. Complementando o que foi dito na resposta anterior, hoje existe uma grande exposição a essas substâncias, e nesse caso, talvez a oferta delas mereça maior consideração.

Sinais que os pais devem ficar atentos caso desconfiem que seu filho seja um usuário de drogas.

Alterações de comportamento, ou seja, se a pessoa mudou o comportamento recentemente, deve-se ficar atento. Ansiedade aumentada, irritabilidade frequente, perda de interesse nas atividades do dia a dia e obrigações. Todos esses fatores são dignos de um olhar diferenciado por parte dos pais.

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